28 de fevereiro de 2007

de quando se anda

enquanto a mente
vaga pelo espaço
pés com qualquer coisa
pisam no asfalto

jogam lama pra cima
lamúrias pra baixo

mentes atuam
na surdina
gritos, ecos, brados

senhores austeros
e seus pés descalços
velhas e seus buços
imensuráveis
à praguejar ao infinito

das calçadas, das vielas
e dos becos
as ruas trazem
marcas efêmeras
de sapatos passageiros

e de mim, tenho como par
meu suor, a lama e o ar.

24 de fevereiro de 2007

torrencial

chove lá fora
e as lagrimas se escorrem
nas janelas
da alma e da rua

o tempo limpa e renova
a chuva cai com as lágrimas
de um deus acima
que junto com o homem (impuro)
chora

refresque seu corpo e sua alma
água
chore chuva chove chora
molha

apenas deixe-se [desapareça]
leve-se p'ra longe daqui
esqueça-se por [perca-se por]
um milésimo

conheça-se.
a ti e a chuva.

(22.02.2006)

18 de fevereiro de 2007

do carnaval

no mangue daquela carne
o homem encontra o charque
agarra e vem com fome
sacia-corre-pega e some.

pega-some
saciafome-some
some o amor some a dor
no segundo grudado
no calor, no calor.

e pulam-se, gritam-se, riam-se
e beijam-se denovo
e saciam-se
enchem suas bocas vazias
com outras cheias de nada

"eles apenas vivem o momento,
camarada."

peguem mais, peguem mais
essa energia contagia,
escondam-se na efeméride
a que chamam,
por seis dias,
de reino da alegria.

Hai-kais

do topo de si mesmo
topa com ele
vi você a esmo.
-
marca prata-brilhante
enfeita os dedos vermelhos
da mão voluptuosa da amante
-
queima uma linha de verso
finge que vê o mundo
estás é com o universo
-
ser sujo imundo
prezam ruas limpas
mundo, vasto mundo.
-
opções de postagem?
devo eu dizer-lhes
falta-me a pastagem.
-

11 de fevereiro de 2007

sete quilômetros

das lágrimas da mãe
correm os sonhos
de uma vida-à-acontecer

de um futuro-à-acontecer
de um riso não dado
de um batalhar inexistente
de um dente mole
da primeira namorada
das discussões nunca feitas
dos segredos partilhados
com quem nunca saberá disso

a vida, que nos é dada simplesmente
e perdida assim, violentada, ah sim!
de um menino que sentado no carro
era um inocente sonhador.

verta suas lágrimas hoje, ó mãe!
pois o que te posso oferecer é silêncio.
silêncio e rosas.

(escrito agora,por mim, as 2.09pm)

6 de fevereiro de 2007

respiração e silêncio
quieto e mudo
ouve distante
barulho do mundo

barulho do mudo
ouve quieto
silêncio distante
respiração do mundo

mundo?
respiração?
silencia-te,
ouça-o.